quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Desconstrucionismo de Roland Barthes

Hermenêutica IV - Introdução a Interpretação Pós-moderna: A interpretação metalinguística radical ou desconstrucionismo de Roland Barthes

Dr. Edvaldo Beranger

Desde os primórdios da civilização, a interpretação fez parte de toda a comunicação. Decodificar sinais e associa-los para formar pensamentos é interpretar. Assim o sujeito por tráz da fala ou do pensamento (texto) sempre foi e sempre será importante. Para a Bíblia, em especial, sempre houve para os que a lêem, um autor ou sujeito que fala. Para nós, cristãos, Deus é a realidade última por tráz da realidade, Ele é o autor e a última essência de todo o pensamento. Desta forma, a modernidade e a pós-modernidade rejeitaram o "Eu" ou o "sujeito" do discurso e assim criaram formas de interpretações que se distanciaram da interpretação tradicional e correta.

Neste blog mostraremos alguns pressupostos sobre a interpretação na modernidade da filosofia de Nietzche e enfocaremos a interpretação de seu discípulo que é Michael Foucault e como eles se distanciaram da intenção do autor, ou melhor, do fundamento do texto, resultando na crítica radical de Roland Barthes.

A escola de Nietzche apareceu no século XIX com suas críticas sobre a religião. Ele vem da filosofia que rejeita toda metafísica (tudo que é além do físico) e do que chamam de materialismo filosófico de L. Feuerbach, que rejeita a filosofia religiosa do protestanismo pietista e o movimento romântico dos alemães (Kant, Hegel e Schleiermacher). A preocupação de Nietzche estava na realidade de que Deus não existe, e ele é a projeção humana dos anseios mais primitivos do homem. Dentro dessa visão vemos que o conceito “deus” não era mais que: a “projeção” da consciência humana no próprio pensamento ocidental. Karl Marx disse que Feuerbach resolvera a questão da religião com a assim chamada “projeção de deus”. Dentro dessa perspectiva, vem a famosa frase de Nietzche de que: "deus está morto", por que o conceito de Deus na interpretação filosófica foi morto pelo materialismo filosófico. Graças a Deus, ele estava errado, pois o conceito filosófico sobre Deus está mais vivo do que nunca.

Para a interpretação bíblica, as críticas de Nietzsche ajudou a criar uma forma [de interpretação] em que Deus não é o autor por trás do texto, se ele está morto [como ele dizia], o ideal iluminista (de encontrar deus em todas as coisas) em especial no texto [iluminado por alguém] deve ser rejeitado. Em outras palavras, o homem moderno perdeu completamente a perspectiva de que algo que pudesse explicar todas as coisas - como Deus - não existia mais. Esse ideal morreu. Vemos claramente duas classes aparecendo com essa tendência de Nietzche:

1. A classe filosófica materialista em que a realidade última é a existência, também chamada de existencialismo; nesta classe temos: (Marx, Freud, Feuerbach, etc...); 2. Uma classe filosófica-religiosa em que Deus não foi totalmente descartado e sim menosprezado. Nesta classe vemos R. Bultmann, K. Barth em sua fase inicial entre outros.

A classe dos que crêem na Bíblia sempre existiu e sempre existirá, mas surgiu um grupo de intérpretes que negavam que a Escritura Sagrada era autoritativa, ou seja, era crível. Isto por causa da dúvida de Descartes, das reações de John Loock e as acusações do Iluminismo deísta, o movimento romântico alemão e outras coisas mais. Ainda no século XIX surgiram movimentos resultantes das filosofias de Feuerbach e do materialismo filosófico de Karl Marx os quais afirmavam que o homem projeta "deus" segundo a sua imagem. Esse é o resultado do pessimismo lógico de S. Kierkegaard.

Stanley Grenz chama a atenção de de que Michel de Foucault significa a idade adulta da pós-modernidade, porque questionou e rejeitou o espírito do modernismo, (Pós-modernismo; Grenz, 2008, p.177). Para Foucult o ser não é o ser, mas aquilo que está escondido, ele disse: "O bios philosophicos é a animalidade do ser humano, que se renova como um desafio e se pratica como um exercício - e se lança na face de outros como um escândalo." (Foucault numa Conferencia na França em 1984). isto tem tudo a ver com sua homosexualidade e sua morte que estava para acontecer por ter HIV soropositivo. Isto resultou numa interpretação da realidade que influenciou decisivamente Roland Barthes.

Qual é então a crítica radical de Roland Barthes? Ele nasceu em 1915 e morreu em 1980, mas ele é chamado de o "pai da desconstrução". Ele usou a linguística da semiótica (sistema cultural de significação entre os signos e sinais) para propor uma linha de interpretação ou método chamado "intralinguisticos" ou "metalinguísticos". Segundo ele, isto é, em seu método, há um mundo psíquico do texto o qual não se expressa em linguagem. Em seu livro: "O Prazer do Texto", ele fala assim: “A tagarelice do texto é apenas essa espuma de linguagem que se forma sob o efeito de uma simples necessidade de escritura” (BARTHES 1987, p. 9).
Para ele o efeito da teoria semiótica é radical para “desmascarar” o posicionamento dos códigos que são assumidos como um espelho do mundo, e demonstrar os hábitos da mente e construções culturais. Pois as massas, através da cultura, confundem e são iludidas em seu encontro com o significado das coisas. A isto ele chama de “mistificação” que é a ferramenta pelo qual a cultura burguesa transmite seus próprios valores sob a aparência da verdade. Para Barthes é preciso "extrair" ou "desconstruir" aquilo que está por trás do texto.
Há quatro fatores em Barthes que precisamos enfatizar em sua interpretação pós-moderna: 1) Ele é influenciado pela interpretação marxista e pela leitura sócio-crítica da realidade criada pela "crítica da suspeita". Essa forma tem sido muito usada por teólogos contra uma hermenêutica inocente da teologia. 2) Ele sofreu a influência de 3 mestres da crítica que são: Freud, Marx e Nietzsche. Estes são responsáveis pela guerra contra a sociedade (Marx), o ser (Freud) e a junção dos dois, (Nietzsche). 3) Ele destaca que há uma pluralidade de interpretações que o signo pode ter, isto são as percepções do mundo intralinguístico. 4) Ele pretende desmascarar textos, ou seja seguindo uma linha semiótica, ele pretende denunciar o que está por trás da intenção do autor, ou seja o texto não mostra o real e sim o oculto, aquilo que o autor tentou esconder.
Dentro dessa perspectiva Barthes via o texto como um espelho oposto da realidade. Usando a semiótica binária, ou seja, o lado positivo e negativo, ele desconstrói o texto dando um sentido oculto. Assim, não há interpretação possível com verdade, mas há suspeitas de coisas que estão escondidas.

Claro que estes conceitos não são usados por aqueles que crêem na Palavra de Deus, mas nos círculos cristãos isso já tem penetrado. Quando assistimos filmes como Matrix, Tron: o Legado, percebemos que há traços de desconstrução atuando por trás da sociedade e da interpretação. Hoje, quando ouvimos alguns pregadores na TV ou nas Igrejas percebemos que o método de suas pregações são basicamente tópico-temáticos e expõe um tema (que as vezes é retirado do texto) como se fosse uma tese defendida não pelo texto, mas por vários outros textos. Esta é uma escola muito conhecida no protestantismo, em que uma tese é defendida com argumentos. O texto quer dizer o que eu quero dizer e não o que o autor quis dizer. Isto é muito sutil.

A escola que me refiro é a tendência moderna de "não se importar com a intenção do autor", ou colocando de outra forma, o texto é um artefato que o intérprete o usa como quer. Hoje, vemos muitos usando o texto das Escrituras como um estudo "lexicográfico" (estudo de palavras), ou como um sermão sistemático em que o autor propõe o tema e busca textos que confirmem a sua tese, ou ainda neste caso devemos perguntar? isto não está errado? A Bíblia não deve falar por si mesma? O pregador ou ensinador tem o direito de impor sua vontade acima da vontade do autor do texto? (Devemos lembrar que o AUTOR da Escritura é Deus que usou autores como Paulo, Marcos, João, etc...). dentro destas perguntas percebemos que o problema é mais complexo. Bom, nessa discussão pretendi levantar o "desconstrucionismo" de Barthes e espero que ninguém se enverede por esse caminho tão místico e perigoso da interpretação, mas ao mesmo tempo desejo alertar pregadores que não respeitam o texto da Bíblia, a estes digo que o Senhor pedirá contas de cada palavra adulterada.

Somente a Deus a glória!

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1 Comentários:

Blogger Rev. Evaldo Beranger disse...

Gostei do "status quaestionis" da interpretação estruturalista. Talvez seja interessante publicar trechos de sua tese de doutorado onde você explica cada um dos passos que você abordou de maneira panorâmica.
Foi muita informação pra quem não conhece o assunto. Uma "popularização" de sua tese seria bem vinda...
Um abraço

11 de janeiro de 2012 às 20:58  

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